18 janeiro 2015

Resenhando: Mulher, ser ou não ser?


Nota: 5/10

Dados do livro:
Título: Como ser mulher
Título original: How to be a woman
Autora: Caitlin Moran
Editora: Paralela
Páginas: 233

Quando eu tinha 16 anos e frequentava o ensino médio, tive uma conversa muito séria com minhas amigas. Nossa conversa basicamente girava em torno da esquisitice de usar a palavra "vagina". Tentamos usar vários nomes conhecidos e não rolou. Eu só conseguia rir e me sentir envergonhada - aliás, nota-se aqui que desde cedo nós nos envergonhamos da nossa sexualidade, enquanto os meninos vivem falando sobre o próprio pênis O TEMPO TODO. No fim das contas, não decidimos nada e só demos risada. O livro de Caitlin Moran me deu ótimas ideias de como devo chamar minha vagina. Daí, você pode imaginar como esse livro pode ser divertido.


Ver um livro feminista com tanto destaque me anima muito. É um ótimo guia para meninas que ainda não sabem bem o que realmente é o feminismo. Afinal, muitas meninas ainda acreditam que se assumir feminista te obriga a parar com a depilação. Não é. Mas pode ser, se você quiser.

COMO NEM TUDO SÃO FLORES...

Passei os últimos 10 dias lendo e processando tudo que encontrei nesse livro. E mesmo assim, fico confusa em dar um parecer. A verdade é que durante a leitura desenvolvi um relacionamento de amor e ódio com a autora. Em um momento estava feliz por encontrar um livro tão acessível e divertido sobre feminismo; e em outros momentos eu quase chorava de tristeza ao ler alguns posicionamentos descontextualizados e baseados em senso comum. O livro é dividido em 16 capítulos. Eu amei pouco mais que a metade. Ainda assim, senti vontade de rasgá-lo todinho em alguns momentos.

Caitlin começa narrando sua adolescência e desenvolvendo temas entorno de tudo o que foi lhe ocorrendo durante os anos. Fiquei impressionada com o fato de que ela descobriu o feminismo muito cedo. Quem dera eu tivesse acesso ao feminismo com 15 anos! Teria feito uma grande diferença na minha vida.



CONTRAS: 

• Homem não gosta, homem gosta: Quando comecei a estudar feminismo fiquei tão aliviada em me libertar da ideia de que devo ou não devo fazer algo me baseando no fato dos homens gostaram ou não. Não tem nada pior do que viver sua vida escolhendo roupas ou moldando comportamentos pensando se homens gostam ou não disso. E, sinceramente, eu pouco me importo. Eu gosto, eu uso. Eu sei que se libertar dessa ideia enfiada em nossas lindas cabecinhas demora e não é tão fácil quanto parece, mas é libertador. Leiam minhas palavras: LIBERTADOR. No capítulo 5 "Preciso de um sutiã", Caitlin fala de como é desconfortável e irritante usar calcinhas super-ultra-mega pequenas, entre outras coisas. E ela peca.
"Quando o assunto é sexo, você realmente precisa se lembrar de que os homens são criaturas abençoadas que sabem perdoar. Eles não se importam com o tipo de calcinha que você usa." (Pág. 75)
E olha, minha resposta pra esse tipo de coisa é: Eu uso o que eu quiser. O que eu gostar. Se é desconfortável, eu não uso. Mas jamais vou deixar de me importar em usar algo com base nesse argumento fajuto de que "os homens não ligam". Oras, o corpo é meu! Dizer que é desconfortável pra caramba já é um argumento muito válido, não precisa de complemento. 

•  Mais sororidade: Se você ainda não leu nada sobre sororidade e acha que eu estou falando algum tipo de idioma desconhecido, vá ao Lugar de Mulher e veja que não estou tão louca assim. Em alguns trechos do livro, sinto que Caitlin se perde e começa a separar as mulheres. Em uma passagem no cap. 7 "Descubro o Machismo", ela fala sobre o poder do flerte e como algumas mulher não tem coragem de flertar e, por isso, ficam mal humoradas.
"Se a única maneira de se comunicar com eles (os homens) é por meio de duas diferenças biológicas, vá em frente. (...) Acha que é um jeito fácil demais de conseguir as coisas? Então não flerte - mas não culpe outras mulheres por fazê-lo. Bom, não na cara delas, pelo menos. Falar mal de todo mundo no banheiro sempre é permitido."
Me chame de exagerada, mas eu continuo achando que falar mal das colegas não é legal. Nunca. Ache outra forma de entretenimento, quem sabe ir ler um livro ou assistir um programa de TV.

• Falta de contexto: Essa foi a parte mais difícil de ler. O capítulo 7, na minha opinião, foi o pior. Caitlin começa a falar sobre a falta de representatividade feminina no mundo e não parece uma autora pesquisadora que sabe do que fala. Parece perdida. Parece ter construído todos os seus argumentos acerca do assunto se baseando no senso comum e não em fatos históricos. Ela diz que quase tudo até agora foi criação do homem e que "não existe uma história paralela de mulheres vitoriosas e criativas, em pé de igualdade com homens, que foram acobertadas de maneira geral pelo homem. Não existe." (Pág. 104). E ler isso dói.
Primeiro de tudo: contextualizar e levar em conta que é impossível existir tantas mulheres astronautas quanto homens astronautas pelo simples fato de que descobrir nunca foi função da mulher. Leve em consideração anos de alienação e opressão! Nós mulheres fomos oprimidas e levadas a pensar que nosso dever é com o lar desde o incio dos tempos. Inclusive, mulheres que ousavam sair do padrão imposto eram extremamente condenadas e, obviamente, não recebiam as mesmas oportunidades que os homens. Então, surpreender-se com o fato de que o número de mulheres cientistas, astronautas, inventoras, exploradoras e políticas não é igual ao número de homens é no mínimo ingênuo. E dizer que essa falta de igualdade em números se deve ao fato de que "as mulheres não fizeram basicamente porra nenhuma nos últimos 100 mil anos" é um desrespeito enorme.
Segundo: para os que ainda acreditam que não existiram mulheres que foram acobertadas de maneira geral pelo homem, recomendo dar uma passadinha nesse álbum magnífico da Rvitorelo no facebook: Coisa de Mulher.

Além desses pontos em destaque, também me entristeci com a generalização de comportamentos feminismo que rola durante todo o livro, principalmente quando ela escreve sobre relacionamentos e casamentos.

ALGUMAS FLORES ALEGRAR A LEITURA...


PRÓS:


É com muita alegria que digo que o livro tem seus bons momentos. E nesses, Caitlin caprichou. Li o capítulo 15 "Aborto" com muito medo. Como eu disse, esse livro tem bastante destaque e está sendo veiculado com muita frequência entre as meninas. E Caitlin me surpreendeu. Ela falou sobre o aborto com muita liberdade e verdade. E, pra mim, é o auge do livro. Durante todo o livro ela escreve com muita liberdade sobre assuntos importantíssimos como a sexualidade feminina e também sobre aqueles dilemas bobos (ou não tão bobos assim) que quase todas nós vivemos ou viveremos no decorrer da vida.

Concluindo, acredito que seja um ótimo livro para leitura inicial sobre feminismo. Dele você pode conhecer mais sobre o feminismo, questionar e aprender que não existe fórmula de feminismo perfeito e que nós vamos construindo o nosso conforme vamos vivendo e aprendendo mais. Fiquei com rancor durante alguns capítulos, mas fico grata à Caitlin pelos argumentos que ela me deu para usar em uma próxima discussão sobre qual nome devo dar à minha vagina. Obrigada. 


   


Sobre a autora:


Caitlin Moran nasceu em Brighton, na Inglaterra, em 1975, e é a mais velha de oito irmãos. Publicou seu primeiro livro aos quinze anos, e começou a trabalhar como jornalista aos dezesseis, na revista Melody Maker. Apresentou o programa de música pop Naked City, na BBC, e hoje é crítica de televisão do Times, para o qual também escreve uma coluna satírica de celebridades "Celebrity Watch".



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